quarta-feira, 24 de julho de 2013

Meu pássaro

Depois de termos discutido por horas e horas, sem dizer nem 1/3 do que estava engasgado em nossas gargantas, ela partiu. Pegou a velha bolsa que sempre usava, seu maço de cigarros, abriu a porta e, completamente sem rumo, saiu.
Sentei em minha poltrona ainda zonzo com tudo aquilo que acabara de acontecer e tentei refletir, achar um jeito de consertar a bagunça que a nossa vida se tornou. Pensei em tudo que nos mantinha afastados: aquele humor instável; as maquiagens jogadas sobre a pia do banheiro; o hábito de se atrasar para tudo; absolutamente tudo e por fim, sua mania de liberdade. Parecia pássaro aquela guria! Volta pra mim só quando quer, mas em minha cabeça é só minha, na dela é de todos e de ninguém. Pensei também no que nos aproximava, tudo que me fazia amá-la: seu cheirinho de flor; o jeito que me faz cafuné e sussurra coisas bobas ao pé do ouvido; suas sardas; o jeito que sempre arranja de rir das coisas e que me faz rir também; a alegria passageira que, às vezes não dura nem um minuto, mas que faz aparecer um sorriso que ilumina o resto do meu dia; o jeito estúpido e rude que demonstra o que sente por mim.
Tendo tudo isso em mente, abri a janela do sexto andar onde vivemos. Observei aquele cabelo desgrenhado, sendo tocado pelo vento e seu vestido verde acompanhando junto aos cabelos, o destino que o vento lhes dava. Enxerguei ali tudo que eu mais desejo. Minha menina livre, meu pássaro que não quer ficar na gaiola, e que não precisa, pois quando ela quiser ser livre e voar, eu acompanho. E quando não, a encho de mimo e amor em nosso ninho. Afinal, o que nos mantém longe é bobeira perto de tudo que nos une.

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